Vale apena ler..
Estava em um daqueles dias bem entediados. Não havia nada na tevê, não havia nada em casa, nenhum programa, nenhum amigo. Apenas eu e ela, deitados no sofá, curtindo o ócio, segurando o saco cheio. Ela me fazia um gostoso e confortante cafuné. A ponta de seus dedinhos passavam entre meus cabelos, coçando levemente minha cabeça. Já havíamos, àquela hora, conversado sobre tudo. Mesmo com todo aquele nada pra ser feito, a companhia dela me salvava. Sempre me salvou e sempre me salvaria.
Foi então que meu pai chegou em casa. Como era incomum que trabalhasse naquele dia da semana, chegou, incomumente, mais cedo.
– Boa tarde. – cumprimentou ele, sério.
– Boa tarde! – respondi, igualmente.
– Boa tarde! – respondeu ela, com a voz suave, com o tom simpático, com o jeito feminino.
Meu pai sorriu. Era incrível como ela, só ela, com aquele dom que somente ela tinha, conseguia dissolver qualquer resquício de negatividade de qualquer pessoa. Meu pai, ainda sorrindo, perguntou:
– O que estão fazendo aqui na sala com a televisão desligada?
– Nada. – respondi.
– Não tem nada pra fazer? – perguntou ele.
– Nada. – respondi.
– Que tal então prepararem o jantar? – sugeriu o velho homem.
– Já fizemos isso! – disse ela, com seu jeitinho. – Está no forno, quentinho, quentinho.
– Ah, olha! Desse jeito você vai colocar meu filho no jeito quando casarem!
– Ela é incrível, né pai? – disse, olhando pra ela, me sentindo o homem mais feliz do mundo por sentir que cada segundo que passei da minha vida inteira procurando por ela realmente valeram a pena.
– Você me disse isso há três anos atrás, quando a me apresentou. E disse há dois meses, quando ficaram noivos.
– E direi sempre, enquanto eu puder me lembrar do brilho desses lindos olhos que me deixam louco toda vez que olham pra mim.
Ela riu. Riu com seu jeitinho. Riu de mim. Riu comigo. Jamais havia visto, em toda a minha vida, uma pessoa que pudesse falar tanto com os olhos como ela.
– Bom, por que não deixam de fazer nada e vão se livrar desse tédio? – sugeriu meu pai.
– E o que me diz? – perguntei.
– Vão, dêem uma volta. – disse ele, jogando um molho de chaves no meu colo. – Só deixe o tanque do jeito que está, tá?
Devo admitir que aquela era uma atitude rara. Não poderia desperdiçar o empréstimo do carro. Peguei o molho, agradeci, abri a porta e chamei o elevador. Ela agradeceu, pegou a bolsa, estalou um beijo macio no rosto duro do meu pai e puxou a porta, esperando o elevador comigo.
Nós não íamos muito longe. Conversávamos e ouvíamos música. O trânsito estava muito bom, não havia praticamente nenhum carro na rodovia. Cada segundo que passava firmava mais a minha certeza de que ela era a pessoa mais importante pra mim naquele mundo. No meu mundo. No mundo todo. Foi quando depois de uma curva havia um carro parado com o motor fundido, bem no meio da rodovia. Eu estava rápido. Não consegui parar, desviei pra direita. A música do rádio parou. O som daquela noite foi inesquecível: o canto dos pneus, vidros estourando. Por último, como uma facada em meu peito, o grito de dor.
Acordei com a chuva molhando o meu rosto. Vários pés. Comentários mudos. Uma única sensação, um mau sentimento. No momento em que eu a vi, a água fria da chuva misturou-se com a quente que saía de meus olhos. Meu peito doía, minha voz não saía. Ajoelhei-me perto dela e apoiei sua cabeça. Com aqueles olhos, olhou-me calorosamente. Sua voz, calma, suave e quente estava fraca.
– Abrace-me, amor, só por um pequeno momento.
Eu a abracei. Forte. Quente. A chuva desaparecera, levando as pessoas com seus comentários mudos. As luzes se apagaram, o som se dissolveu. Era apenas eu e ela naquele pequeno momento. Momento eterno. Seu coração estava quente, assim como minhas lágrimas sem limites. Olhei-a nos olhos, e demos um beijo. Apaixonado, quente, ansioso e triste. O maior e mais prolongado beijo. O nosso último beijo.
Eu havia encontrado a razão da minha vida, e sabia, naquele momento, que eu a tinha perdido. Ela se foi, mesmo eu a tendo segurado e abraçado forte. Eu perdi o meu amor naquela noite. Eu perdi a minha vida naquela noite.
(Baseado na música Last Kiss - Pearl Jam)
Foi então que meu pai chegou em casa. Como era incomum que trabalhasse naquele dia da semana, chegou, incomumente, mais cedo.
– Boa tarde. – cumprimentou ele, sério.
– Boa tarde! – respondi, igualmente.
– Boa tarde! – respondeu ela, com a voz suave, com o tom simpático, com o jeito feminino.
Meu pai sorriu. Era incrível como ela, só ela, com aquele dom que somente ela tinha, conseguia dissolver qualquer resquício de negatividade de qualquer pessoa. Meu pai, ainda sorrindo, perguntou:
– O que estão fazendo aqui na sala com a televisão desligada?
– Nada. – respondi.
– Não tem nada pra fazer? – perguntou ele.
– Nada. – respondi.
– Que tal então prepararem o jantar? – sugeriu o velho homem.
– Já fizemos isso! – disse ela, com seu jeitinho. – Está no forno, quentinho, quentinho.
– Ah, olha! Desse jeito você vai colocar meu filho no jeito quando casarem!
– Ela é incrível, né pai? – disse, olhando pra ela, me sentindo o homem mais feliz do mundo por sentir que cada segundo que passei da minha vida inteira procurando por ela realmente valeram a pena.
– Você me disse isso há três anos atrás, quando a me apresentou. E disse há dois meses, quando ficaram noivos.
– E direi sempre, enquanto eu puder me lembrar do brilho desses lindos olhos que me deixam louco toda vez que olham pra mim.
Ela riu. Riu com seu jeitinho. Riu de mim. Riu comigo. Jamais havia visto, em toda a minha vida, uma pessoa que pudesse falar tanto com os olhos como ela.
– Bom, por que não deixam de fazer nada e vão se livrar desse tédio? – sugeriu meu pai.
– E o que me diz? – perguntei.
– Vão, dêem uma volta. – disse ele, jogando um molho de chaves no meu colo. – Só deixe o tanque do jeito que está, tá?
Devo admitir que aquela era uma atitude rara. Não poderia desperdiçar o empréstimo do carro. Peguei o molho, agradeci, abri a porta e chamei o elevador. Ela agradeceu, pegou a bolsa, estalou um beijo macio no rosto duro do meu pai e puxou a porta, esperando o elevador comigo.
Nós não íamos muito longe. Conversávamos e ouvíamos música. O trânsito estava muito bom, não havia praticamente nenhum carro na rodovia. Cada segundo que passava firmava mais a minha certeza de que ela era a pessoa mais importante pra mim naquele mundo. No meu mundo. No mundo todo. Foi quando depois de uma curva havia um carro parado com o motor fundido, bem no meio da rodovia. Eu estava rápido. Não consegui parar, desviei pra direita. A música do rádio parou. O som daquela noite foi inesquecível: o canto dos pneus, vidros estourando. Por último, como uma facada em meu peito, o grito de dor.
Acordei com a chuva molhando o meu rosto. Vários pés. Comentários mudos. Uma única sensação, um mau sentimento. No momento em que eu a vi, a água fria da chuva misturou-se com a quente que saía de meus olhos. Meu peito doía, minha voz não saía. Ajoelhei-me perto dela e apoiei sua cabeça. Com aqueles olhos, olhou-me calorosamente. Sua voz, calma, suave e quente estava fraca.
– Abrace-me, amor, só por um pequeno momento.
Eu a abracei. Forte. Quente. A chuva desaparecera, levando as pessoas com seus comentários mudos. As luzes se apagaram, o som se dissolveu. Era apenas eu e ela naquele pequeno momento. Momento eterno. Seu coração estava quente, assim como minhas lágrimas sem limites. Olhei-a nos olhos, e demos um beijo. Apaixonado, quente, ansioso e triste. O maior e mais prolongado beijo. O nosso último beijo.
Eu havia encontrado a razão da minha vida, e sabia, naquele momento, que eu a tinha perdido. Ela se foi, mesmo eu a tendo segurado e abraçado forte. Eu perdi o meu amor naquela noite. Eu perdi a minha vida naquela noite.
(Baseado na música Last Kiss - Pearl Jam)
Autor: Ariel Salgado Nascimento.
ResponderExcluirSó pra constar ;D